quinta-feira, 24 de julho de 2014

amor & coisas simples



Me and you singing on the train,
Me and you listening to the rain,
Me and you we are the same
Me and you have all the fame
We need; indeed,
You and me are we.

Me and you singing in the park
Me and you light candles in the dark
Me and you we are the spark
We'll watch that light just make an arc
To say someday
There will be a better way.

Me and you were waiting for the dawn
Me and you and all the places we've gone
Me and you, sitting on the lawn
Me and you just singing a song;
A rhyme to shine
And to pass the time.

Me and you singing to all
Me and you were not so small
Me and you can stand up tall
Me and you just having a ball
Happy to be
You... and me


Barry Louis Polisar - Me and You

sobe equipa!


(não ligar às "mines" que, como é evidente, já estavam na mesa quando chegámos)

quarta-feira, 23 de julho de 2014

doping



Band of Horses - Is There a Ghost

coisas que me levam a ela

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 22 de julho de 2014

"(from) Rome with Love"

doping



David Lynch & Lykke Li - I'm Waiting Here

coisas simples

Dearest friends,

The last night was extreme. The "ground invasion" of Gaza resulted in scores and carloads with maimed, torn apart, bleeding, shivering, dying - all sorts of injured Palestinians, all ages, all civilians, all innocent.

The heroes in the ambulances and in all of Gaza's hospitals are working 12-24 hour shifts, grey from fatigue and inhuman workloads (without payment all in Shifa for the last 4 months), they care, triage, try to understand the incomprehensible chaos of bodies, sizes, limbs, walking, not walking, breathing, not breathing, bleeding, not bleeding humans. HUMANS!
Now, once more treated like animals by "the most moral army in the world" (sic!).

My respect for the wounded is endless, in their contained determination in the midst of pain, agony and shock; my admiration for the staff and volunteers is endless, my closeness to the Palestinian "sumud" gives me strength, although in glimpses I just want to scream, hold someone tight, cry, smell the skin and hair of the warm child, covered in blood, protect ourselves in an endless embrace - but we cannot afford that, nor can they.

Ashy grey faces - Oh NO! Not one more load of tens of maimed and bleeding, we still have lakes of blood on the floor in the ER, piles of dripping, blood-soaked bandages to clear out - oh - the cleaners, everywhere, swiftly shovelling the blood and discarded tissues, hair, clothes,cannulas - the leftovers from death - all taken away ... to be prepared again, to be repeated all over. More then 100 cases came to Shifa in the last 24 hrs. Enough for a large well trained hospital with everything, but here - almost nothing: no electricity, water, disposables, drugs, OR-tables, instruments, monitors - all rusted and as if taken from museums of yesterday's hospitals. But they do not complain, these heroes. They get on with it, like warriors, head on, enormously resolute.

And as I write these words to you, alone, on a bed, my tears flow, the warm but useless tears of pain and grief, of anger and fear. This is not happening!

An then, just now, the orchestra of the Israeli war-machine starts its gruesome symphony again, just now: salvos of artillery from the navy boats just down on the shores, the roaring F16, the sickening drones (Arabic 'Zennanis', the hummers), and the cluttering Apaches. So much made in and paid by the US.

Mr. Obama - do you have a heart?

I invite you - spend one night - just one night - with us in Shifa. Disguised as a cleaner, maybe.

I am convinced, 100%, it would change history.

Nobody with a heart AND power could ever walk away from a night in Shifa without being determined to end the slaughter of the Palestinian people.

But the heartless and merciless have done their calculations and planned another "dahyia" onslaught on Gaza.
The rivers of blood will keep running the coming night. I can hear they have tuned their instruments of death.

Please. Do what you can. This, THIS cannot continue.


Mads Gilbert, MD PhD
Professor and Clinical Head
Clinic of Emergency Medicine
University Hospital of North Norway
Aqui

terça-feira, 15 de julho de 2014

morrer um pouco, de cada vez que a vejo



You know that I love you
And what endures
All my thoughts of you
For I'm so completely yours


[...]

Hush now, don't explain
You're my joy and pain
My life's yours love
Don't explain


Nina Simone - Don't Explain

segunda-feira, 14 de julho de 2014

coisas simples

Até agora, o que vos foi possível observar?

A ideia de resolver o problema da dívida através da austeridade falhou completamente. A dívida é agora ainda mais insustentável do que era, há três anos. Os programas são, também, extremamente enviezados. Todo o fardo é assumido pelos trabalhadores e pelos contribuintes normais, enquanto as elites privilegiadas, que conseguem evadir a sua riqueza através dos offshores, e que são as maiores responsáveis pela crise, até conseguem lucrar com os programas de ajustamento. Por exemplo, quando conseguem comprar activos valiosos ao Estado a preços de saldo.

Essa é, até agora, a vossa principal conclusão?

O “resgate” errado, que apenas salvou os investidores estrangeiros, principalmente alemães, de perderem nos maus investimentos que fizeram, mina a confiança nas instituições democráticas dos países afectados. Os Governos e os Parlamentos desses países parecem ser apenas marionetas nas mãos de desconhecidos, e não eleitos, burocratas estrangeiros. E, ou, de investidores.


Harald Schumann, editor do diário berlinense Tagesspiegel e autor do livro "A Armadilha da Globalização".

Mais aqui.

verdades verdadinhas



You’re something special
Want you to know you are


Avey Tare's Slasher Flicks - Little Fang

sexta-feira, 11 de julho de 2014

lambarices

Sexta Conjugação, 1

Não componho versos. Deixo-os.
Não porque esteja na minha natureza a liberdade,
não porque acredite nos deuses,
não porque não saiba contar as sílabas
até formarem os sons do silêncio.
Porque a minha alma nasceu sem ritmo,
e as palavras têm de a dizer em acentos.
Um dia hão-de dizer que fui músico.
Foi um acaso do português,
contingência certa da poesia.
As palavras vencem sempre.


Pedro Braga Falcão, "Poesia".

segunda-feira, 7 de julho de 2014

músicas para ir para a praia



Lambchop - Interrupted

lambarices

«Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita, se o nosso casamento definhou de mocidade, como outros de velhice, se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo dos teus projectos e do redondo das tuas nádegas, se sufoca da ternura de que não consigo falar, aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que não virás e desejando que venhas do mesmo modo que, como diz Molero, um cego espera os olhos que encomendou pelo correio.»

António Lobo Antunes, Memória de Elefante.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

doping



And I miss you when you're around

Modest Mouse - Baby Blue Sedan

lambarices

Depoimento

De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.


Miguel Torga

quinta-feira, 3 de julho de 2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

finjamos, hoje, 'como se [ela] não estivesse morta'

Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.


Sophia, Dia do Mar.

dias justos

Sophia de Mello Breyner no Panteão Nacional

Não são os poetas que precisam de nós. Somos nós que precisamos deles e das suas palavras de vida e de morte. Somos nós que necessitamos das suas acusações e das suas celebrações, das cóleras e dos êxtases, dos anátemas e dos louvores, das profanações e das sagrações. Somos nós que necessitamos desse voo da voz, dessa veemência da vida, desse fogo da fronte. Nos grandes poemas dos grandes poetas, o mundo - ou a sua recusa - está perante nós e ficamos à altura da sua altura.

Para Sophia de Mello Breyner, a poesia foi sempre a arte de não dizer nada que não fosse preciso dizer. Os seus poemas falam do humano e do divino, do caos e do cosmos, do próximo e do longínquo, da plenitude e do vazio, do reino e do exílio, da abundância e da fome, da felicidade e do terror. Falam da casa e do mundo, do jardim e do mar, da ânfora e do vinho, dos espelhos e do silêncio, das estátuas e da dança, das colunas e do vento, das ilhas e das navegações, da luz e da noite. Falam da beleza do mundo e do sofrimento dos homens, do tempo que foi e do tempo que é, daquele que nos é dado e daquele que nos é negado (“Quem me roubou o tempo que era um / quem me roubou o tempo que era meu”, último poema da Obra Poética).

As suas palavras têm a precisão minuciosa dos microscópios e o alcance majestoso dos telescópios. Com elas, somos o astronauta que atravessa a distância dos espaços e o miniaturista que desenha a exactidão dos tempos. Com elas, vemos o que olhamos, ouvimos o que escutamos, dizemos o que falamos.

Antígona do século XX português, Sophia foi aquela “que não aprendeu a ceder aos desastres”. Debruçada sobre o tempo, como o rei Gaspar de um dos seus Contos Exemplares, nunca cessou de perguntar: “Que pode crescer dentro do tempo senão a justiça?” E, nesta pergunta, havia já uma resposta: “Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor.// É por isso que a poesia é uma moral. É por isso que o poeta é levado a buscar a justiça pela própria natureza da sua poesia.”, Arte Poética III.

É por isso que a participação de Sophia na política se fez das mesmas perguntas e das mesmas respostas de que a sua poesia se faz. É por isso que a coragem de Sophia era uma ética e a sua lucidez um compromisso com o mundo e com os homens que o habitam. É por isso que a sua morte foi um momento de despedida, de descoberta, de despertar. Ao vermos que a morte não prevaleceu sobre a sua obra, aprendemos que somos os herdeiros da sua palavra, da sua nobreza, do seu desassombro.

Neste tempo que vivemos contra nós próprios (“A nossa vida é como um vestido que não cresceu connosco”), em que tudo parece decair como um sol cansado, precisamos de afirmar que, a seguir à noite, há o dia. E a voz de Sophia fala-nos disso como um anúncio: “Apesar das ruínas e da morte,/ Onde sempre acabou cada ilusão,/ A força dos meus sonhos é tão forte, / Que de tudo renasce a exaltação/ E nunca as minhas mãos ficam vazias” (primeiro poema da Obra Poética).

Os dias da nossa vida tornaram-se sombras e fantasmas. Para que esses dias se tornem outros dias, não nos basta ouvir – repetidas, insistentes, incessantes, ameaçadoras – as palavras “cortes”, “crise”, “dívida”, “défice”, ”desperdício”, “ajustamento”, “resgate”, “assistência”, “medidas”, “cautelar”, “precarização”, “requalificações”, “mobilidade”. Precisamos de uma palavra mais limpa, de um olhar mais alto, de uma esperança mais viva. Como disse Mallarmé, no poema Le Tombeau d’ Edgar Poe, é preciso “dar um sentido mais puro às palavras da tribo”. Esse é o sentido da obra de Sophia. Nela, a vida e a poesia não se separaram nunca e foram liberdade livre e justiça justa. No que escreveu e no que viveu, passa esse sopro de inteireza, de verdade e de audácia que a tornou um símbolo para todos.

Em 2014, passam dez anos sobre a morte de Sophia e quarenta anos sobre a Revolução do 25 de Abril. É esta a boa data para que Portugal, através dos seus representantes, conceda a Sophia de Mello Breyner as honras de Panteão Nacional, prestando-lhe o tributo que merece e dando ao país o momento de uma restituição, de um reencontro, de um reconhecimento e de uma aliança com o seu futuro.

Do antigo ao moderno Panteão, num movimento que atravessa o tempo do Ocidente, os altares dos deuses deram lugar aos túmulos dos homens. Aí, se inscrevem os nomes das grandes figuras históricas, culturais e cívicas que se tornaram motivo de inspiração, de identificação, de renovação. Sophia tem essa dimensão, que faz dela a imagem de um país à altura de si-mesmo.

Nos nossos amargos dias, a desvalorização simbólica da vida colectiva acompanha o declínio da democracia e dos seus valores. É por isso que, no ano de 2014, em que todos os perigos se juntam a todos os medos, devemos fazer de Sophia e da sua fidelidade à promessa inicial do 25 de Abril um antídoto, para não termos nunca de voltar a dizer como ela disse em dias infames: “Este é o tempo / da selva mais obscura/ (…) Esta é a noite/ densa de chacais / Pesada de amargura / Este é o tempo em que os homens renunciam”.

Tornada exemplo, sinal e testemunha, Sophia ensina-nos a não renunciar e a não recuar. Ensina-nos a recusar e a rejeitar. Ensina-nos “que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência, mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser”.

Ensina-nos a não aceitar “a fatalidade do mal”. Ensina-nos a olhar de frente “a sábia e tácita injustiça, a “longa tenebrosa e perita degradação das coisas”, os “conluios e negócios”, a “feroz ganância e fria possessão”, as “máscaras alibis e pretextos”, as “fintas, labirintos e contextos”, a “meticulosa eficaz expedita degradação da vida” (Nestes últimos tempos) – e a dizer não. Ensina-nos a acusar e a recusar “o desencontro/ O limiar e o linear perdidos // (…) A vida errada num país errado/ Novos ratos mostram a avidez antiga”.

Ensina-nos a perguntar: “Deverá tudo passar a ser passado/ Como projecto falhado e abandonado/ Como papel que se atira ao cesto/ Como abismo fracasso não esperança/ Ou poderemos enfrentar e superar/ Recomeçar a partir da página em branco/ Como escrita de poema obstinado?” (Os Erros). Ensina-nos a responder: “Porém restam/ Do quebrado projecto da sua empresa em ruína/ Canto e pranto clamor palavras harpas/ Que de geração em geração ecoam / Em contínua memória de um projecto/ Que sem cessar de novo tentaremos” (Projecto II). Ensina-nos a afirmar: “Sei que seria possível construir o mundo justo/ As cidades poderiam ser claras e lavadas/ (…) A terra onde estamos – se ninguém atraiçoasse – proporia/ Cada dia a cada um a liberdade e o reino” (A Forma Justa).

A lei 28/2000, de 29 de Novembro, que define e regula as Honras do Panteão Nacional diz: “As honras de Panteão destinam-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignidade da pessoa humana e da causa da liberdade”.

A concessão, pela Assembleia da República, de honras de Panteão Nacional a Sophia de Mello Breyner não será apenas a homenagem justa e necessária à grande poeta, cujo poema sobre o 25 de Abril se tornou um texto fundador da nossa democracia (“Esta é a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo”). Não será só o reconhecimento à mulher universal, à cidadã insubmissa, à deputada à Assembleia Constituinte, que acendeu na sua voz o fervor com que defendia uma liberdade fiel à poesia e à vida. Este tributo a Sophia será, agora e sempre, um alerta, um alarme e um aviso para não nos deixarmos vencer. Será também já o Sim que diremos depois do Não que dissermos.



José Manuel dos Santos, que escreveu este texto em 17/11/2013 e deu início a algo que hoje se materializa: a querida Sophia terá honras de Panteão. Mais aqui.

doping



Bob Dylan - Most of The Time

terça-feira, 1 de julho de 2014

coisas que me levam a ela

Demand of me
my best (you are).


Marilyn Hacker

para dormir de um sono só



Neil Halstead - Spin The Bottle