segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
e (como sempre) estava certa, foi tudo verdade
brincadeiras
«brincávamos a cair nos
braços um do outro, como faziam
as actrizes nos filmes com o marlon
brando, e depois suspirávamos e ríamos
sem saber que habituávamos o coração à
dor. queríamos o amor um pelo outro
sem hesitações, como se a desgraça nos
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que
o peito era todo em movimento e não
sabíamos que a vida podia parar um
dia. eu ainda te disse que me doíam os
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o
cansaço chegava e instalava-se no meu
poço de medo. tu rias e caías uma e outra
vez à espera de acreditares apenas no que
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam,
quando percebíamos que o mundo era
feito de distância e tanto tempo vazio, tu
ficavas muito feminina e abandonada e eu
sofria mais ainda com isso. estavas tão
diferente de mim como se já tivesses
partido e eu fosse apenas um local esquecido
sem significado maior no teu caminho. tu
dizias que se morrêssemos juntos
entraríamos juntos no paraíso e querias
culpar-me por ser triste de outro modo, um
modo mais perene, lento, covarde. Eu
amava-te e julgava bem que amar era
afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu
nos teus braços, fazias um
bigode no teu rosto como se fosses o
marlon brando. eu, que te descobria como se
descobrem fantasias no inferno, não
queria ser beijado pelo marlon brando e
entrava numa combustão modesta que, às
batidas do meu coração, iluminava o meu
rosto como lâmpada falhando
a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não
brinques assim, vais partir uma perna, vais
partir a cabeça, vais partir o
coração. e estava certa, foi tudo verdade.»
valter hugo mãe, 'contabilidade'
«brincávamos a cair nos
braços um do outro, como faziam
as actrizes nos filmes com o marlon
brando, e depois suspirávamos e ríamos
sem saber que habituávamos o coração à
dor. queríamos o amor um pelo outro
sem hesitações, como se a desgraça nos
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que
o peito era todo em movimento e não
sabíamos que a vida podia parar um
dia. eu ainda te disse que me doíam os
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o
cansaço chegava e instalava-se no meu
poço de medo. tu rias e caías uma e outra
vez à espera de acreditares apenas no que
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam,
quando percebíamos que o mundo era
feito de distância e tanto tempo vazio, tu
ficavas muito feminina e abandonada e eu
sofria mais ainda com isso. estavas tão
diferente de mim como se já tivesses
partido e eu fosse apenas um local esquecido
sem significado maior no teu caminho. tu
dizias que se morrêssemos juntos
entraríamos juntos no paraíso e querias
culpar-me por ser triste de outro modo, um
modo mais perene, lento, covarde. Eu
amava-te e julgava bem que amar era
afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu
nos teus braços, fazias um
bigode no teu rosto como se fosses o
marlon brando. eu, que te descobria como se
descobrem fantasias no inferno, não
queria ser beijado pelo marlon brando e
entrava numa combustão modesta que, às
batidas do meu coração, iluminava o meu
rosto como lâmpada falhando
a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não
brinques assim, vais partir uma perna, vais
partir a cabeça, vais partir o
coração. e estava certa, foi tudo verdade.»
valter hugo mãe, 'contabilidade'
para não dormir de um sono só
Carolina, nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei, que não vai dar
Seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo, pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu
Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela
E só Carolina não viu
Carminho e Chico Buarque - Carolina
confirmações
"Allowing yourself to be vulnerable is one of the most attractive things you can do."
Rick Owens
Rick Owens
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
amor & coisas simples
Of everything I have seen,
it’s you I want to go on seeing:
of everything I’ve touched,
it’s your flesh I want to go on touching.
I love your orange laughter.
I am moved by the sight of you sleeping.
What am I to do, love, loved one?
I don’t know how others love
or how people loved in the past.
I live, watching you, loving you.
Being in love is my nature.
Pablo Neruda
it’s you I want to go on seeing:
of everything I’ve touched,
it’s your flesh I want to go on touching.
I love your orange laughter.
I am moved by the sight of you sleeping.
What am I to do, love, loved one?
I don’t know how others love
or how people loved in the past.
I live, watching you, loving you.
Being in love is my nature.
Pablo Neruda
domingo, 23 de dezembro de 2012
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
coisas (literalmente) simples
«I have come to believe that the whole world is an enigma, a harmless enigma that is made terrible by our own mad attempt to interpret it as though it had an underlying truth.»
Umberto Eco
Umberto Eco
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
amor & coisas simples
Raw With Love
little dark girl with
kind eyes
when it comes time to
use the knife
I won't flinch and
I won't blame
you,
as I drive along the shore alone
as the palms wave,
the ugly heavy palms,
as the living does not arrive
as the dead do not leave,
I won't blame you,
instead
I will remember the kisses
our lips raw with love
and how you gave me
everything you had
and how I
offered you what was left of
me,
and I will remember your small room
the feel of you
the light in the window
your records
your books
our morning coffee
our noons our nights
our bodies spilled together
sleeping
the tiny flowing currents
immediate and forever
your leg my leg
your arm my arm
your smile and the warmth
of you
who made me laugh
again.
little dark girl with kind eyes
you have no
knife. the knife is
mine and I won't use it
yet.
Charles Bukowski
little dark girl with
kind eyes
when it comes time to
use the knife
I won't flinch and
I won't blame
you,
as I drive along the shore alone
as the palms wave,
the ugly heavy palms,
as the living does not arrive
as the dead do not leave,
I won't blame you,
instead
I will remember the kisses
our lips raw with love
and how you gave me
everything you had
and how I
offered you what was left of
me,
and I will remember your small room
the feel of you
the light in the window
your records
your books
our morning coffee
our noons our nights
our bodies spilled together
sleeping
the tiny flowing currents
immediate and forever
your leg my leg
your arm my arm
your smile and the warmth
of you
who made me laugh
again.
little dark girl with kind eyes
you have no
knife. the knife is
mine and I won't use it
yet.
Charles Bukowski
domingo, 16 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
socos no estômago
«O presidente da Rede Europeia Antipobreza, Sérgio Aires, costuma dizer que "quem é pobre não é livre". É uma daquelas verdades que todos intuímos, mas cujo alcance só conseguimos entender quando a realidade nos esmurra o estômago e a alma. A notícia que hoje publicamos na página 20 é uma valente sova. E uma imoralidade.
Resumidamente: a altruísta Associação Empresarial de Penafiel contratou quatro desempregados para fazerem de Pai Natal nas ruas da cidade durante todo o mês de dezembro. Paga-lhes 83 euros. Feitas as contas, dá 43 cêntimos por hora. A este magnífico honorário são acrescentados dois luxos: subsídio de transporte e alimentação.
Para ganharem os 83 eurinhos, os desempregados, operários de construção civil, passam seis horas e meia, de segunda a domingo, metidos em casinhas espalhadas por Penafiel, distribuindo balões e carinhos pelas crianças que passam.
Estes homens não são livres, porque a pobreza lhes rouba a capacidade de recusarem uma proposta de trabalho tão indigna quanto esta. O problema não está no serviço que prestam, está no que lhes é pago pelo que fazem. E que eles são forçados a aceitar, por viverem mergulhados numa vida que os atropelou e onde todos os cêntimos contam para garantir a sobrevivência deles e dos seus.
Thomas Carlyle, historiador e ensaísta escocês, dizia que "de qualquer tipo que seja a pobreza, ela não é a causa da imoralidade, mas o efeito".
Pereira Leite, presidente da Associação Comercial de Penafiel, terá seguramente muita dificuldade em entender esta relação de causa e efeito. Caso contrário, não lhe teria sequer passado pela cabeça oferecer 43 cêntimos por hora a quatro desempregados sem perceber que estava a promover uma gigante imoralidade.
Para o presidente da Associação Comercial de Penafiel, basta que o processo de candidaturas cumpra o estipulado por lei, como cumpriu. A seguir resta à Associação, como restou, selecionar os candidatos com melhor perfil para a tarefa. Tudo o que vá para além dessa tralha burocrática é pouco, ou nada, relevante.
Há nisto algo de terrivelmente cínico e imoral: os melhores candidatos para a "tarefa" são os que não podem recusar a "tarefa". Esta ou outra que lhes apareça pela frente. Há nisto algo de terrivelmente perturbador: uma entidade que, supostamente, existe para defender o comércio e a economia local não pode, não deve aproveitar-se da fraqueza dos outros para cumprir um objetivo, por muito de mérito que ele seja. Se a Associação não tem dinheiro para mais, contenta-se com menos. Puxa pela cabeça para achar outras soluções. Faz qualquer coisa que não humilhe pessoas. E que não humilhe a própria Associação.»
Paulo Ferreira, aqui
Resumidamente: a altruísta Associação Empresarial de Penafiel contratou quatro desempregados para fazerem de Pai Natal nas ruas da cidade durante todo o mês de dezembro. Paga-lhes 83 euros. Feitas as contas, dá 43 cêntimos por hora. A este magnífico honorário são acrescentados dois luxos: subsídio de transporte e alimentação.
Para ganharem os 83 eurinhos, os desempregados, operários de construção civil, passam seis horas e meia, de segunda a domingo, metidos em casinhas espalhadas por Penafiel, distribuindo balões e carinhos pelas crianças que passam.
Estes homens não são livres, porque a pobreza lhes rouba a capacidade de recusarem uma proposta de trabalho tão indigna quanto esta. O problema não está no serviço que prestam, está no que lhes é pago pelo que fazem. E que eles são forçados a aceitar, por viverem mergulhados numa vida que os atropelou e onde todos os cêntimos contam para garantir a sobrevivência deles e dos seus.
Thomas Carlyle, historiador e ensaísta escocês, dizia que "de qualquer tipo que seja a pobreza, ela não é a causa da imoralidade, mas o efeito".
Pereira Leite, presidente da Associação Comercial de Penafiel, terá seguramente muita dificuldade em entender esta relação de causa e efeito. Caso contrário, não lhe teria sequer passado pela cabeça oferecer 43 cêntimos por hora a quatro desempregados sem perceber que estava a promover uma gigante imoralidade.
Para o presidente da Associação Comercial de Penafiel, basta que o processo de candidaturas cumpra o estipulado por lei, como cumpriu. A seguir resta à Associação, como restou, selecionar os candidatos com melhor perfil para a tarefa. Tudo o que vá para além dessa tralha burocrática é pouco, ou nada, relevante.
Há nisto algo de terrivelmente cínico e imoral: os melhores candidatos para a "tarefa" são os que não podem recusar a "tarefa". Esta ou outra que lhes apareça pela frente. Há nisto algo de terrivelmente perturbador: uma entidade que, supostamente, existe para defender o comércio e a economia local não pode, não deve aproveitar-se da fraqueza dos outros para cumprir um objetivo, por muito de mérito que ele seja. Se a Associação não tem dinheiro para mais, contenta-se com menos. Puxa pela cabeça para achar outras soluções. Faz qualquer coisa que não humilhe pessoas. E que não humilhe a própria Associação.»
Paulo Ferreira, aqui
sobrevivência
«O mundo é assim, que quer? É forçoso encontrar um estilo. Seria bom colocar grandes cartazes nas ruas, fazer avisos na televisão e nos cinemas. Procure o seu estilo, se não quer dar em pantanas. Arranjei o meu estilo estudando matemática e ouvindo um pouco de música. – João Sebastião Bach. Conhece o Concerto Brandeburguês n.º 5? Conhece com certeza essa coisa tão simples, tão harmoniosa e definitiva que é um sistema de três equações e trê s incógnitas. Primário, rudimentar. Resolvi milhares de equações. Depois ouvia Bach. Consegui um estilo. Aplico-o à noite quando acordo às quatro da madrugada. É simples: quando acordo aterrorizado, vendo as grandes sombras incompreensíveis erguerem-se no meio do quarto, quando a pequena luz se faz na ponta dos dedos, e toda a imensa melancolia do mundo parece subir do sangue com a sua voz obscura… Começo a fazer o meu estilo. Admirável exercício, este.»
Herberto Helder, Os Passos em Volta
Herberto Helder, Os Passos em Volta
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
frases que tinham tudo para dar certo
'temos de o enterrar bem fundo para os pássaros não o comerem.'
a certa altura, numa peça de teatro, a propósito de um morto.
já ouvi desculpas melhores.
a certa altura, numa peça de teatro, a propósito de um morto.
já ouvi desculpas melhores.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
amor & coisas simples
'you must love in such a way that the person you love feels free.'
Thich Nhat Hanh
Thich Nhat Hanh
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
e ainda a propósito
[At the beginning of the evening]
Vivian: In case I forget to tell you later, I had a really good time tonight.
Pretty Woman
Vivian: In case I forget to tell you later, I had a really good time tonight.
Pretty Woman
junções perfeitas
M83 - Steve McQueen, Lost In Translation
n.b. - especial agradecimento ao grande Jô.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
lapidar
Eugénio de Andrade
«Um dia, a Inês Lourenço quis apresentar-me ao Eugénio de Andrade e oferecer-lhe um livro meu. Éramos amigos, ela adorava-o, ele já tinha a sua fundação e marcava muito a vida das pessoas da poesia no Porto. Eu sabia que ele tinha um trato muito antipático. Frequentava as leituras e demais eventos da fundação e sempre me impressionava o modo trombudo como assistia. A sala rodeada de retratos seus, as pessoas todas observando-o na expectativa de saber se dos seus dedos algum pássaro nascia.
Foi uma surpresa que a Inês Lourenço tivesse um livro meu na carteira. Foi uma surpresa que o tirasse da carteira no momento em que dizia ao poeta que queria muito apresentar-lhe um amigo, um jovem que considerava promissor. No mesmo instante, o Eugénio de Andrade tirou-lhe o livro da mão e, ainda mais trombudo, furioso como trovões, disse que estava farto de jovens e que não leria mais nada de ninguém. Disse que, se deixássemos ali aquela merda, aquela merda iria imediatamente para o lixo.A Inês queria encontrar um buraco para se meter. A mim, deu-me um certo ataque de riso. Não achei aquilo nada pessoal, mas fiquei nervoso, sem jeito. Era apenas uma indisposição, sim. Mas, na verdade, nada que não lhe fosse coerente.Hoje, percebo que gosto mais do Eugénio de Andrade do que gostava então. Mesmo antes do episódio antipático. Envelhecer é querer simplificar, tornar cada coisa mais límpida, elementar. Ganhar idade faz com que o Eugénio de Andrade deixe de ser apenas solar e passe a ser a pureza possível. Claro que ele devia angustiar por aspirar à pureza, distante dela como devia estar, como estamos todos. Mas a sua aspiração é o que conta e, no final, assim o identifica.Ler Eugénio de Andrade é passar a alma por água limpa. A sua poesia tem uma propriedade de higienização que nos permite a transcendência em vida, sem mais esquisitice que não o deslumbre.A Assírio & Alvim está a publicar, agora em grande e perfeição, a integral da poesia do Eugénio de Andrade. A cada volume, relemos os clássicos de sempre. Lapidares, como nascidos directamente da natureza do tempo. Como se o tempo fosse pronunciando o que lhe parece, maduro. Um tempo que se pensa, sábio. Alguns dos seus poemas não parecem trabalho de ninguém, são a respiração natural das coisas. A assombrosa manifestação do que demorou a eternidade para ter voz.Sempre vi o Eugénio de Andrade como um poeta ideal para os começos. Receitei os seus livros a todos os jovens, tão irónico parece isso agora, porque estive convencido de que não há melhor para seduzir para a leitura e a escrita. Hoje, percebo que os seus textos são sobretudo para quem quer chegar ao limite das palavras. Ali, onde elas acabam de ser palavras e passam a mexer nos nossos ossos com dedos.»
valter hugo mãe
«Um dia, a Inês Lourenço quis apresentar-me ao Eugénio de Andrade e oferecer-lhe um livro meu. Éramos amigos, ela adorava-o, ele já tinha a sua fundação e marcava muito a vida das pessoas da poesia no Porto. Eu sabia que ele tinha um trato muito antipático. Frequentava as leituras e demais eventos da fundação e sempre me impressionava o modo trombudo como assistia. A sala rodeada de retratos seus, as pessoas todas observando-o na expectativa de saber se dos seus dedos algum pássaro nascia.
Foi uma surpresa que a Inês Lourenço tivesse um livro meu na carteira. Foi uma surpresa que o tirasse da carteira no momento em que dizia ao poeta que queria muito apresentar-lhe um amigo, um jovem que considerava promissor. No mesmo instante, o Eugénio de Andrade tirou-lhe o livro da mão e, ainda mais trombudo, furioso como trovões, disse que estava farto de jovens e que não leria mais nada de ninguém. Disse que, se deixássemos ali aquela merda, aquela merda iria imediatamente para o lixo.A Inês queria encontrar um buraco para se meter. A mim, deu-me um certo ataque de riso. Não achei aquilo nada pessoal, mas fiquei nervoso, sem jeito. Era apenas uma indisposição, sim. Mas, na verdade, nada que não lhe fosse coerente.Hoje, percebo que gosto mais do Eugénio de Andrade do que gostava então. Mesmo antes do episódio antipático. Envelhecer é querer simplificar, tornar cada coisa mais límpida, elementar. Ganhar idade faz com que o Eugénio de Andrade deixe de ser apenas solar e passe a ser a pureza possível. Claro que ele devia angustiar por aspirar à pureza, distante dela como devia estar, como estamos todos. Mas a sua aspiração é o que conta e, no final, assim o identifica.Ler Eugénio de Andrade é passar a alma por água limpa. A sua poesia tem uma propriedade de higienização que nos permite a transcendência em vida, sem mais esquisitice que não o deslumbre.A Assírio & Alvim está a publicar, agora em grande e perfeição, a integral da poesia do Eugénio de Andrade. A cada volume, relemos os clássicos de sempre. Lapidares, como nascidos directamente da natureza do tempo. Como se o tempo fosse pronunciando o que lhe parece, maduro. Um tempo que se pensa, sábio. Alguns dos seus poemas não parecem trabalho de ninguém, são a respiração natural das coisas. A assombrosa manifestação do que demorou a eternidade para ter voz.Sempre vi o Eugénio de Andrade como um poeta ideal para os começos. Receitei os seus livros a todos os jovens, tão irónico parece isso agora, porque estive convencido de que não há melhor para seduzir para a leitura e a escrita. Hoje, percebo que os seus textos são sobretudo para quem quer chegar ao limite das palavras. Ali, onde elas acabam de ser palavras e passam a mexer nos nossos ossos com dedos.»
valter hugo mãe
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
certezas & coisas simples
«You don’t get to choose if you get hurt in this world, old man, but you do have some say in who hurts you. I like my choices. I hope she likes hers.»
John Green, The Fault in Our Stars
John Green, The Fault in Our Stars
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
amor & coisas simples
«Well closer to God is the one who's in love», disse-o tantas vezes Damien Rice, e ninguém o compreendeu tão bem quanto The xx. O que há de mais íntimo e incomunicável nisto de nos apaixonarmos está aqui, em verso, respiração e batimento cardíaco, e eu desafio qualquer alminha sobredotada para a poesia, tratado filosófico ou bruxaria a tentar o milagre. É a (minha) música do ano. Digamos que também ela está muito próxima de Deus.
'You move through the room
Like breathing was easy
If someone believed me
They would be
As in love with you as I am'»
menina limão
The xx - Angels
'You move through the room
Like breathing was easy
If someone believed me
They would be
As in love with you as I am'»
menina limão
The xx - Angels
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
socos no estômago
'A homeless man slept in front of a shoe store in Lisbon. About 1.4 million people are currently unemployed in Portugal, and only 370,000 of them receive monthly social support from the government, leaving around one million people without the benefit.'
Portugal Passes Another Austere Budget, in New York Times
e um certo espelho
Sob o Chuveiro Amar
'Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?'
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'
'Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?'
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'
terça-feira, 27 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
lambarices
também gosto muito do primeiro comentário do senhora(a) 'gogiryeah': 'the one person who disliked this has no soul'.
aproveito para dizer o senhor(a) 'gogiryeah' que actualmente existem já 9 pessoas que não gostam do vídeo e que, por isso mesmo, não têm alma.
o mundo está perdido.
mãe, desculpa
brincadeiras
'brincávamos a cair nos
braços um do outro, como faziam
as actrizes nos filmes com o marlon
brando, e depois suspirávamos e ríamos
sem saber que habituávamos o coração à
dor. queríamos o amor um pelo outro
sem hesitações, como se a desgraça nos
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que
o peito era todo em movimento e não
sabíamos que a vida podia parar um
dia. eu ainda te disse que me doíam os
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o
cansaço chegava e instalava-se no meu
poço de medo. tu rias e caías uma e outra
vez à espera de acreditares apenas no que
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam,
quando percebíamos que o mundo era
feito de distância e tanto tempo vazio, tu
ficavas muito feminina e abandonada e eu
sofria mais ainda com isso. estavas tão
diferente de mim como se já tivesses
partido e eu fosse apenas um local esquecido
sem significado maior no teu caminho. tu
dizias que se morrêssemos juntos
entraríamos juntos no paraíso e querias
culpar-me por ser triste de outro modo, um
modo mais perene, lento, covarde. Eu
amava-te e julgava bem que amar era
afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu
nos teus braços, fazias um
bigode no teu rosto como se fosses o
marlon brando. eu, que te descobria como se
descobrem fantasias no inferno, não
queria ser beijado pelo marlon brando e
entrava numa combustão modesta que, às
batidas do meu coração, iluminava o meu
rosto como lâmpada falhando
a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não
brinques assim, vais partir uma perna, vais
partir a cabeça, vais partir o
coração. e estava certa, foi tudo verdade'
valter hugo mãe, 'contabilidade'
'brincávamos a cair nos
braços um do outro, como faziam
as actrizes nos filmes com o marlon
brando, e depois suspirávamos e ríamos
sem saber que habituávamos o coração à
dor. queríamos o amor um pelo outro
sem hesitações, como se a desgraça nos
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que
o peito era todo em movimento e não
sabíamos que a vida podia parar um
dia. eu ainda te disse que me doíam os
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o
cansaço chegava e instalava-se no meu
poço de medo. tu rias e caías uma e outra
vez à espera de acreditares apenas no que
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam,
quando percebíamos que o mundo era
feito de distância e tanto tempo vazio, tu
ficavas muito feminina e abandonada e eu
sofria mais ainda com isso. estavas tão
diferente de mim como se já tivesses
partido e eu fosse apenas um local esquecido
sem significado maior no teu caminho. tu
dizias que se morrêssemos juntos
entraríamos juntos no paraíso e querias
culpar-me por ser triste de outro modo, um
modo mais perene, lento, covarde. Eu
amava-te e julgava bem que amar era
afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu
nos teus braços, fazias um
bigode no teu rosto como se fosses o
marlon brando. eu, que te descobria como se
descobrem fantasias no inferno, não
queria ser beijado pelo marlon brando e
entrava numa combustão modesta que, às
batidas do meu coração, iluminava o meu
rosto como lâmpada falhando
a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não
brinques assim, vais partir uma perna, vais
partir a cabeça, vais partir o
coração. e estava certa, foi tudo verdade'
valter hugo mãe, 'contabilidade'
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
é sexta-feira
Mozart - Le Nozze Di Figaro, @ The Shawshank Redemption
Red: [narrating] I have no idea to this day what those two Italian ladies were singing about. Truth is, I don't want to know. Some things are best left unsaid. I'd like to think they were singing about something so beautiful, it can't be expressed in words, and makes your heart ache because of it. I tell you, those voices soared higher and farther than anybody in a gray place dares to dream. It was like some beautiful bird flapped into our drab little cage and made those walls dissolve away, and for the briefest of moments, every last man in Shawshank felt free.
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
mais um a dar-me razão
«A ideia de fazer tudo para que os filhos sejam felizes, evitando que chorem, está ultrapassada. A teoria de disciplinar sem que a criança chore está desactualizada, diz Gordon Neufeld, psicólogo clínico canadiano que esteve em Portugal no final da semana. (...) 'As crianças precisam da tristeza, da tragédia para crescerem. Precisam de ter as suas lágrimas', defende.»
(aqui)
(aqui)
amor & coisas simples
'when I say that I miss you I mean something more,
i mean I’ve been biding my time till you kiss me again.
i keep poems like secrets
and then tell them when I’m tried of hiding who I am.
i am missing you most
in the silence between songs on my favorite record.
sometimes it takes so long for the music to start… is there a shoreline where the seaweed holds the rocks
so tight they soften into sand?
is it too late to say that’s how my heart feels in your hands?
like you could sift it through an hour glass and pass it off as time
never stood still, and neither did I…
but I will
if you let me.'
Andrea Gibson
i mean I’ve been biding my time till you kiss me again.
i keep poems like secrets
and then tell them when I’m tried of hiding who I am.
i am missing you most
in the silence between songs on my favorite record.
sometimes it takes so long for the music to start… is there a shoreline where the seaweed holds the rocks
so tight they soften into sand?
is it too late to say that’s how my heart feels in your hands?
like you could sift it through an hour glass and pass it off as time
never stood still, and neither did I…
but I will
if you let me.'
Andrea Gibson
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
socos no estômago
'Supermercado do centro comercial das Amoreiras, fim da tarde de terça-feira. Uma jovem mãe, acompanhada do filho com seis anos, está a pagar algumas compras que fez: leite, manteiga, fiambre, detergentes e mais alguns produtos.
Quando chega ao fim, a empregada da caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha para o dinheiro que traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho 70 euros.
Começa a pôr de lado vários produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda não. Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este pacote de bolachas também fica.
Aí o menino agarra na manga do casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São as que eu levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por trás dela começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de lágrima no canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.
O momento embaraçoso é quebrado pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas, pergunta à empregada da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi um sorriso muito envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A pobreza de quem nunca pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor os que a sofrem.
Tenho a certeza que o ministro Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito improvável. Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que esse é o preço a pagar pela famoso ajustamento. É isso que é muito preocupante.'
Nicolau Santos, (aqui)
Quando chega ao fim, a empregada da caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha para o dinheiro que traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho 70 euros.
Começa a pôr de lado vários produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda não. Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este pacote de bolachas também fica.
Aí o menino agarra na manga do casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São as que eu levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por trás dela começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de lágrima no canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.
O momento embaraçoso é quebrado pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas, pergunta à empregada da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi um sorriso muito envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A pobreza de quem nunca pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor os que a sofrem.
Tenho a certeza que o ministro Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito improvável. Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que esse é o preço a pagar pela famoso ajustamento. É isso que é muito preocupante.'
Nicolau Santos, (aqui)
amor & coisas (que não são assim tão) simples
'I was sentimental about many things: a woman’s shoes under the bed; one hairpin left behind on the dresser; walking down the boulevard with them at 1:30 in the afternoon, just two people walking together; the long nights of drinking and smoking; talking; the arguments; thinking of suicide; eating together and feeling good; the jokes; the laughter out of nowhere; feeling miracles in the air; being in a parked car together; comparing past loves at 3am; mothers, daughters, sons, cats, dogs; sometimes death and sometimes divorce; but always carring on, always seeing it through; reading a newspaper alone in a sandwich joint and feeling nausea because she’s now married to a dentist with an I.Q. of 95; racetracks, parks, park picnics; even jails; her dull friends; your dull friends; your drinking, her dancing; your flirting, her flirting; her pills, your fucking on the side and her doing the same; sleeping together.'
Charles Bukowski
Charles Bukowski
terça-feira, 20 de novembro de 2012
coisas simples
'The area dividing the brain and the soul is affected in many ways by experience. Some lose all mind and become soul: insane. Some lose all soul and become mind: intellectual. Some lose both and become accepted.'
Charles Bukowski
Charles Bukowski
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
coisas simples
Discurso do presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, na Rio+20
É importante sublinhar que este mesmo senhor foi apelidado (aqui) de ser o «presidente mais 'pobre' do mundo».
A reportagem:
«Apenas a presença de dois polícias quebra a aparência de "normalidade" na quinta onde vive o chefe de Estado do Uruguai. Cá fora, a roupa seca ao sol e as ervas reclamam um corte. Manuela, uma cadela de três pernas vigia a casa.
Foi por esta quinta, propriedade da primeira-dama, que Jose Mujica, antigo guerrilheiro, trocou a luxuosa residência oficial. Conduz um Volkswagen Beetle de 1987, que é o seu bem mais caro.
O facto de doar 90% do seu salário como Presidente para a caridade, deixa-o com cerca de mil euros mensais.
Eleito em 2009, Mujica passou grande parte das décadas de 60 e 70 a lutar ao lado de um grupo armado inspirado na revolução cubana. Foi alvejado seis vezes e esteve preso durante 14 anos, até 1985.
"Chamam-me o 'presidente mais pobre', mas eu não me sinto pobre", declara, à BBC. "Pobres são os que só trabalham para tentar manter um estilo de vida dispendioso e querem sempre mais e mais". "É uma questão de liberdade", conclui.»
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
frases que tinham tudo para dar certo
'então e quando é que te vão... (pausa) filmar lá com a cara'
o grande Zé, nas suas habituais tiradas, a propósito de umas gravações quase cinematográficas.
o grande Zé, nas suas habituais tiradas, a propósito de umas gravações quase cinematográficas.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
greve geral *
Cavalheiro - Lado de Lá
* pode ser que um dia tenha a coragem para estar desse tal lado de lá. o lado certo. desculpa avô.
para dormir de um sono só e ser feliz (não necessariamente por esta ordem)
La mia mente ha preso il volo
Un pensiero, uno solo
Io cammino mentre dorme la città
I suoi occhi nella notte
Fanali bianchi nella notte
Una voce che mi parla, chi sarà?
Dimmi ragazzo solo dove vai,
Perché tanto dolore?
Hai perduto senza dubbio un grande amore
Ma di amori e' tutta piena la città,
No ragazza sola, no no no
Stavolta sei in errore
Non ho perso solamente un grande amore
Ieri sera ho perso tutto con lei.
Ma lei
I colori della vita
Dei cieli blu
Una come lei non la troverò mai più
Ora ragazzo solo dove andrai
La notte e' un grande mare
Se ti serve la mia mano per nuotare
Grazie ma stasera io vorrei morire
Perché sai negli occhi miei
C'e' un angelo, un angelo
Che ormai non vola più
Che ormai non vola più
Che ormai non vola più
C'e' lei
I colori della vita
Dei cieli blu
Una come lei non la troverò mai più
David Bowie - Ragazzo Solo, Ragazza Sola
terça-feira, 13 de novembro de 2012
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
amor & coisas (que não são assim tão) simples
Poema sobre a Recusa
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
Maria Teresa Horta
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
Maria Teresa Horta
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
amor & coisas simples
You know that it's like leading a mild life
The clothes in my younger days were so wild
And it's time I met someone like you
And I hope to make certain that it's true
Richard Hawley - Hotel Room
Isabel Jonet, vai à merda!
'Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha
A senhora de não sei quem
Que é de todos e de mais alguém
Passa a tarde descansada
Mastigando a torrada
Com muita pena do pobre
Coitada
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha
Neste mundo de instituição
Cataloga-se até o coração
Paga botas e merenda
Rouba muito mas dá prenda
E ao peito terá
Uma comenda
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha
O pobre no seu penar
Habitua-se a rastejar
E no campo ou na cidade
Faz da sua infelicidade
Alvo para os desportistas
Da caridade
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha
E nós que queremos ser irmãos
Mas nunca sujamos as mãos
É uma vida decente
Não passeio ou aguardente
O que é justo
E há-que dar a toda a gente
Não vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta é falsa intençãozinha
Não vamos brincar à caridadezinha
Não vamos brincar à caridadezinha
Não vamos brincar à caridadezinha'
José Barata Moura - vamos brincar à caridadezinha
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
ignorance is bliss
'Who can know
The thoughts of Mary Jane
Why she flies
Or goes out in the rain
Where she's been
And who she's seen
In her journey to the stars.
Who can know
The reasons for her smile
What are her dreams
When they've journeyed for a mile
The way she sings
And her brightly coloured rings
Make her the princess of the sky.
Who can know
What happens in her mind
Did she come from a strange world
And leave her mind behind
Her long lost sighs
And her brightly coloured eyes
Tell her story to the wind.'
Nick Drake - The Thoughts Of Mary Jane
terça-feira, 6 de novembro de 2012
amor & coisas simples
feels so good when i'm near you
holding hands and making love
Ariel Pink's Haunted Graffiti - Baby
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
orçamentos do Estado
'Hoping for something more,
Me, seeing me this time, hoping for something else'
Joy Division - New Dawn Fades
e recordei por instantes uns versos da querida Sophia: 'Uma terrível atroz imensa / Desonestidade / Cobre a cidade' (...) O mal procura o mal e ambos se entendem / Compram e vendem'.
gsoy *
oh, but we were the music lovers!
Destroyer - The Music Lovers
* que é como quem diz, gratuitous song of yourself.
terça-feira, 30 de outubro de 2012
'teremos sempre Paris'
'construída de raíz (hum, hum)
com cobertores no chão'
Samuel Úria - Barbarella e Barba Rala
'o medo'
'Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?'
Manuel António Pina, Nenhum Sítio
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?'
Manuel António Pina, Nenhum Sítio
frases que tinham tudo para dar certo
'tenho o rabo todo lixado depois deste fim-de-semana!'
o Zé, a propósito de um passeio de cicloturismo.
o Zé, a propósito de um passeio de cicloturismo.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
lambarices
'Os bonecos da Hello Kitty e do Sponge Bob travaram-se de razões e protagonizaram uma cena de pugilato na Puerta del Sol, em Madrid, Espanha. Na origem do desaguisado esteve a disputa pelo melhor lugar para fazer fotos com os visitantes.
Segundo o El Mundo esta não foi a primeira vez que os bonecos mais famosos dos desenhos da televisão lutaram.'
Bob Esponja y Hello Kitty pelea en la Puerta del Sol (Madrid)
aqui
um dia
'There are roughly three New Yorks. There is, first, the New York of the man or woman who was born there, who takes the city for granted and accepts its size, its turbulence as natural and inevitable. Second, there is the New York of the commuter — the city that is devoured by locusts each day and spat out each night. Third, there is New York of the person who was born somewhere else and came to New York in quest of something. Of these trembling cities the greatest is the last — the city of final destination, the city that is a goal. It is this third city that accounts for New York’s high strung disposition, its poetical deportment, its dedication to the arts, and its incomparable achievements. Commuters give the city its tidal restlessness, natives give it solidity and continuity, but the settlers give it passion. And whether it is a farmer arriving from a small town in Mississippi to escape the indignity of being observed by her neighbors, or a boy arriving from the Corn Belt with a manuscript in his suitcase and a pain in his heart, it makes no difference: each embraces New York with the intense excitement of first love, each absorbs New York with the fresh yes of an adventurer, each generates heat and light to dwarf the Consolidated Edison Company.'
E.B. White, Here is New York
E.B. White, Here is New York
amor & coisas simples
You make me smile with my heart
Your looks are laughable
Unphotographable
Yet you're my favourite work of art
Is your figure less than Greek
Is your mouth a little weak
When you open it to speak
Are you smart?
But don't change a hair for me
Not if you care for me
Chet Baker - My Funny Valentine
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
queria só dizer que o Ai Weiwei é o maior e pronto era só isto
Caonima Style
O vídeo, partilhado pelo próprio artista na sua conta no Twitter, tem como título "Caonima Style" – uma referência a um animal imaginário, semelhante a uma alpaca, criado em 2009 para protestar contra a censura na Web e usado para provocar o regime chinês. O nome "Caonima" (literalmente "cavalo de lama e erva") é um jogo de palavras com a expressão "cao ni ma", que numa tradução livre do mandarim para o inglês ganha a conotação de "motherfucker" (é mais forte do que o português "filho da mãe", mas não é fácil encontrar uma expressão com a mesma carga).
aqui
coisas simples
Contra o palavrão grosseiro
Que disparate. Caralho fica sempre bem na boca de uma senhora.
Menina Limão
Que disparate. Caralho fica sempre bem na boca de uma senhora.
Menina Limão
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
outoniço *
Kings of Convenience - Riot on an Empty Street
* expressão absolutamente deliciosa que descobri sem querer e que não é mais do que um adjectivo referente algo que nasce no outono, próprio do outono, outonal. confere, portanto.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
lambarices
Edward Sharpe & The Magnetic Zeros - Child
'se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. a esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados - a tais regressos se chama, às vezes, poesia.'
Eugénio de Andrade
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
coisas simples
'a saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.'
Sophia, n'a menina do mar.
Sophia, n'a menina do mar.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
na hora da despedida
Amor como em Casa
'Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.'
Manuel António Pina, em 'Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde'
'Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.'
Manuel António Pina, em 'Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde'
amor & coisas simples
'No meu prisma, a encaixar, provavelmente no de outros feito um filósofo de merda, mas a vida é isso mesmo, um monte de gente a fazer de conta que se entende e ninguém sabe dizer o que viveu. Por isso nos pedem que caminhemos alegres para o precipício sem questionar. Porque estaremos sempre longe. Mas longe rapidamente fica perto e perto rapidamente passa por nós. Eu não quero mandar-te para baixo. Mas eu sei que me entendes. E é ai que eu entro para sair da frequência. Seduzir-te com os meus sonhos. Mas devo dizer-te que a viagem é tua e não quero empurrar-te à força para a rua. Se eu falhar vou passar de Deus a carrasco, embalsamado e metido dentro de um frasco para te lembrares da mentira. Mas a verdade, é que ganhamos sempre.'
Manel Cruz
Manel Cruz
coisas simples
'Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim.'
Vírgilio Ferreira
Vírgilio Ferreira
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
gtoy *
Juventude (5)
'Pela primeira vez na vida não espero nada e não quero nada, passou de fatalista a budista, o estupor. Vivo enfim pacificado com a falta de virtude e talento. E dominei o sofrimento, o que julgava impossível, estou um estóico de opereta, desiludido, calmo, divertido.'
mestre
* que é como quem diz, gratuitous text of yourself
'Pela primeira vez na vida não espero nada e não quero nada, passou de fatalista a budista, o estupor. Vivo enfim pacificado com a falta de virtude e talento. E dominei o sofrimento, o que julgava impossível, estou um estóico de opereta, desiludido, calmo, divertido.'
mestre
* que é como quem diz, gratuitous text of yourself
ainda a propósito das coisas que devíamos saber
'a esperança. só a esperança, nada mais. chega-se um ponto em que não há mais nada senão ela. é então que descobrimos que ainda temos tudo.'
José Saramago
José Saramago
coisas que devíamos saber
It was cutting. It was done with style.
It was just a way to see you smile.
Destroyer - Certain Things You Ought to Know
lambarices
Jules: Nobody's gonna hurt anybody. We're gonna be like three little Fonzies here. And what's Fonzie like? Come on Yolanda what's Fonzie like?
Yolanda: Cool?
Jules: What?
Yolanda: He's cool.
Jules: Correctamundo.
Pulp Fiction
Yolanda: Cool?
Jules: What?
Yolanda: He's cool.
Jules: Correctamundo.
Pulp Fiction
terça-feira, 16 de outubro de 2012
«I'ma get medieval on your ass»
Butch: You okay?
Marsellus: Naw man. I'm pretty fuckin' far from okay.
Butch: What now?
Marsellus: What now? Let me tell you what now. I'ma call a coupla hard, pipe-hittin' niggers, who'll go to work on the homes here with a pair of pliers and a blow torch. You hear me talkin', hillbilly boy? I ain't through with you by a damn sight. I'ma get medieval on your ass.
Butch: I meant what now between me and you?
Marsellus: Oh, that what now. I tell you what now between me and you. There is no me and you. Not no more.
Pulp Fiction
aprende W
Vincent: That's a pretty fucking good milkshake. I don't know if it's worth five dollars but it's pretty fucking good.
Pulp Fiction
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
frases que tinham tudo para dar certo
'desculpa, é que são tantos ao mesmo tempo.'
a W, ao telefone, a falar sobre uma coisa qualquer que não interessa para nada.
a W, ao telefone, a falar sobre uma coisa qualquer que não interessa para nada.
'o tom e o equívoco'
'É verdade que nunca comunicámos tanto, porque nunca tivemos tantos meios tecnológicos de comunicação à distância. E no entanto, nalguns deles (as mensagens de telemóvel, os programas de conversação pela net) perdemos um elemento essencial da comunicação, o tom, coisa que tentamos superar com umas sinalefas de gosto duvidoso. Sem tom (sem mágoa ou ironia ou irritação) ficamos dependentes das palavras em si mesmas. Mas as palavras sem tom, pelo menos na linguagem comum, causam equívocos. O aumento da comunicação é assim um aumento (astronómico) dos equívocos entre as pessoas.'
mestre
mestre
coisas simples
'there’s nothing like deep breaths after laughing that hard. nothing in the world like a sore stomach for the right reasons.'
Stephen Chbosky, The Perks of Being a Wallflower
Stephen Chbosky, The Perks of Being a Wallflower
domingo, 14 de outubro de 2012
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
coisas simples (& boas)
A justiça atribuiu os poderes paternais de um menino de 2 anos a um casal homossexual. É uma decisão inédita. Tanto o Ministério Público como o juiz entenderam que o casal é uma solução melhor do que a família biológica. Não é uma adoção mas, na prática, são eles os pais da criança.
aqui
aqui
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
para dormir de um sono só *
Antony and the Johnsons - Cut the World
* a não ser que vejam o teledisco (esta expressão é uma delícia) até ao fim. aí já poderá ser mais complicado...
orçamentos do Estado
Cidade dos outros
'Uma terrível atroz imensa
Desonestidade
Cobre a cidade
Há um murmúrio de combinações
Uma telegrafia
Sem gestos sem sinais sem fios
O mal procura o mal e ambos se entendem
Compram e vendem
E com um sabor de coisa morta
A cidade dos outros
Bate à nossa porta'
Sophia
'Uma terrível atroz imensa
Desonestidade
Cobre a cidade
Há um murmúrio de combinações
Uma telegrafia
Sem gestos sem sinais sem fios
O mal procura o mal e ambos se entendem
Compram e vendem
E com um sabor de coisa morta
A cidade dos outros
Bate à nossa porta'
Sophia
amor & coisas simples
'I want to hold the hand inside you
I want to take a breath that's true
I look to you and I see nothing
I look to you to see the truth
You live your life
You go in shadows
You'll come apart and you'll go black
Some kind of night into your darkness
Colors your eyes with what's not there.
Fade into you
Strange you never knew
Fade into you
I think it's strange you never knew
A stranger's light comes on slowly
A stranger's heart without a home
You put your hands into your head
And then it's smiles cover your heart
Fade into you
Strange you never knew
Fade into you
I think it's strange you never knew'
Mazzy Star - Fade Into You
sobre o medo
'and yet women - good women - frightened me because they eventually wanted your soul, and what was left of mine, I wanted to keep.'
Charles Bukowski
Charles Bukowski
terça-feira, 9 de outubro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
coisas simples
Dwayne: You know what? Fuck beauty contests. Life is one fucking beauty contest after another. School, then college, then work... Fuck that. And fuck the Air Force Academy. If I want to fly, I'll find a way to fly. You do what you love, and fuck the rest.
'Little Miss Sunshine'
domingo, 7 de outubro de 2012
sábado, 6 de outubro de 2012
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
coisas simples
queria escrever 'sou um nabo' e acabei por escrever 'sou um naco'.
é tão bom quando nos foge a boca para a verdade.
é tão bom quando nos foge a boca para a verdade.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
amor & coisas simples
«Honey, I found a reason to keep living
And you know the reason, dear it's you»
The Velvet Underground - I Found A Reason
domingo, 30 de setembro de 2012
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
coisas simples
Wendell: That's very linear Sheriff.
Ed Tom Bell: Well, age will flatten a man.
No Country for Old Men
Ed Tom Bell: Well, age will flatten a man.
No Country for Old Men
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
coisas simples
Llewelyn Moss: If I don't come back, tell mother I love her.
Carla Jean Moss: Your mother's dead, Llewelyn.
Llewelyn Moss: Well then I'll tell her myself.
No Country for Old Men
Carla Jean Moss: Your mother's dead, Llewelyn.
Llewelyn Moss: Well then I'll tell her myself.
No Country for Old Men
doping
«a dangerous woman up to a point once said
"people come and people go
and people lie nameless in the snow"»
Destroyer - A Dangerous Woman Up To A Point
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
outono
Modest Mouse - The World at Large
outro dia, em conversa, discutia qual a estação preferida do ano. decidi-me pelo outono. se não fosse pelas golas subidas dos casacos, pela chuva na janela, pela manta nas pernas, pelo café mais quente, pelos cachecóis e echarpes, as folhas na rua, ou o castanho, seria pela legitimação da música deprimente que não me apetece ouvir quando está calor ou sol lá fora.
coisas simples
'Gosto da sobriedade com que os jornais ingleses anunciam que determinado colunista não escreve nessa semana: fulano de tal «is away». Não importa onde, porquê, até quando, «is away» basta. Gente decente não pergunta mais nada.'
mestre
mestre
terça-feira, 25 de setembro de 2012
coisas (que deviam ser) simples
Patrick Bateman: I'm on a diet.
Jean: What, you're kidding, right? You look great... so fit... and thin.
Patrick Bateman: Well, you can always be thinner... look better.
American Psycho
Jean: What, you're kidding, right? You look great... so fit... and thin.
Patrick Bateman: Well, you can always be thinner... look better.
American Psycho
músicas para ficar a vê-la dormir
El Perro Del Mar - Let Me In
especial agradecimento aos 'senhores' das 'más companhias', pelos excelentes momentos musicais dos últimos tempos, alguns dos quais já devidamente furtados para este espaço.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
coisas simples
Libelo
'De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar – e um barco com nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar?
E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos, uma pró caniço, outra pró queixo, que é pra ele poder se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra pruxar tristeza, e um pouco de pensamento pra pensar até se perder no infinito…
- Mas o mar está preso em correntes, e é preciso por ele lutar!
De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra – um pedaço bem verde terra – e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um modesto pomar; e um jardim – que um jardim é importante – carregado de flor de cheirar?
E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos pra mexer na terra e arranhar uns acordes no violão quando a noite se faz luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa sem mistério não vale morar…
- Mas a terra foi escravizada, e é preciso por ela lutar!
De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um amigo bem seco, bem simples, desses que nem precisa falar – basta olhar – um desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra briga, um amigo de casa e de bar?
E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à vontade ao amigo?
- Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!
De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma mulhar com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular? E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão do carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o desatino o carrega em sua onda sem rumo?
Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher – as únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo amigo…'
Vinicius de Moraes, Abril de 1950.
furto. simples. aqui.
'De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar – e um barco com nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar?
E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos, uma pró caniço, outra pró queixo, que é pra ele poder se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra pruxar tristeza, e um pouco de pensamento pra pensar até se perder no infinito…
- Mas o mar está preso em correntes, e é preciso por ele lutar!
De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra – um pedaço bem verde terra – e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um modesto pomar; e um jardim – que um jardim é importante – carregado de flor de cheirar?
E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos pra mexer na terra e arranhar uns acordes no violão quando a noite se faz luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa sem mistério não vale morar…
- Mas a terra foi escravizada, e é preciso por ela lutar!
De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um amigo bem seco, bem simples, desses que nem precisa falar – basta olhar – um desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra briga, um amigo de casa e de bar?
E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à vontade ao amigo?
- Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!
De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma mulhar com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular? E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão do carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o desatino o carrega em sua onda sem rumo?
Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher – as únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo amigo…'
Vinicius de Moraes, Abril de 1950.
furto. simples. aqui.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
coisas simples
'aprendi a não tentar convencer ninguém. o trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.'
josé saramago
josé saramago
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
(outra) homenagem *
'Virar a cabeça
não é resguardar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar
Sedenta é aquela
que olha uma montra
no fundo dos olhos
reparem
está morta
os outros passeiam
com ar de enganados
verdade há naquele
com a fome
no fato
Virar a cabeça
não é reparar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar
O Chão tem os
anos
e a área dos meses
e a morte é um
fruto com raiva nos dentes
Reparem
no choro que nos deram
no berço
verdade é a História
com arado
e semente
Virar a cabeça
não é confrontar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar
Tem o povo as mãos
pregadas na terra
Se um dia as recolhe
são armas de guerra
que o pão é
feitio que o corpo
aí toma
a verdade é no peito
uma bala sem lógica
Virar a cabeça
não é perguntar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar
Dobrada lava a mulher
o chão
de toda uma casa
que os braços
não lavram milho
quando as espigas estão quebradas
questão de vício
ou vencer
questão de força
Reparem
há um clima
de raiva
com armas que não disparam
Virar a cabeça
não é transformar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar'
Maria Teresa Horta
* por isto e muito mais.
não é resguardar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar
Sedenta é aquela
que olha uma montra
no fundo dos olhos
reparem
está morta
os outros passeiam
com ar de enganados
verdade há naquele
com a fome
no fato
Virar a cabeça
não é reparar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar
O Chão tem os
anos
e a área dos meses
e a morte é um
fruto com raiva nos dentes
Reparem
no choro que nos deram
no berço
verdade é a História
com arado
e semente
Virar a cabeça
não é confrontar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar
Tem o povo as mãos
pregadas na terra
Se um dia as recolhe
são armas de guerra
que o pão é
feitio que o corpo
aí toma
a verdade é no peito
uma bala sem lógica
Virar a cabeça
não é perguntar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar
Dobrada lava a mulher
o chão
de toda uma casa
que os braços
não lavram milho
quando as espigas estão quebradas
questão de vício
ou vencer
questão de força
Reparem
há um clima
de raiva
com armas que não disparam
Virar a cabeça
não é transformar
(amigos)
nem ver as pessoas
é vistoriar'
Maria Teresa Horta
* por isto e muito mais.
amor & coisas simples
«C'est le temps de l'amour,
Le temps des copains et de l'aventure.
Quand le temps va et vient,
On ne pense a rien malgre ses blessures.
Car le temps de l'amour
Ca vous met au coeur
Beaucoup de chaleur et de bonheur.»
Françoise Hardy - Le Temps de l'Amour
homenagem
Poema sobre a recusa
'Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.'
Maria Teresa Horta
'Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.'
Maria Teresa Horta
momento 'tácátá'
- a dra. está cá?
- 'tá cá 'tá!
Tacabro - Tacata
n.b. - queria pedir desculpa ao simão e ao garfunkel pelo facto de estes senhores os seguirem em termos de 'posts'.
- 'tá cá 'tá!
Tacabro - Tacata
n.b. - queria pedir desculpa ao simão e ao garfunkel pelo facto de estes senhores os seguirem em termos de 'posts'.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
músicas para fazer o truca-truca
'Hold me in your arms,
Love me like your best friends did,
Promise I won’t hurt you kid,
Hold me really tight until the stars look big,
Never let me go.
All the world is ours,
Like they say in Scarface kid,
You can push your drugs and I can make it big,
Singing CB Jeebies have a real good gig,
Hey you never know.
Cause baby we were born to live fast and die young,
Born to be bad, have fun,
Honey, you and me can be one,
Just believe, come on.
If you love me hardcore, then don’t walk away,
It’s a game boy,
I don’t wanna play,
I just wanna be your’s,
Like I always say,
Never let me go.
Boy, we’re in a world war,
Let’s go all the way,
Put your foot to the floor,
Really walk away,
Tell me that you need me more and more everyday,
Never let me go, just stay.
We gonna go far,
I can already taste it kid,
LA”s gonna look real good,
Drive me in your car until the sky gets big,
Never let me go.
Send me to the stars,
Tell me when I get there kid,
I can be your Nancy,
You can be my Sid,
Get into some trouble like our parents did,
Hey, they’ll never know,
Cause baby we were born to be bad,
Move on,
Built to go fast,
Stay strong,
Honey, you and me and no one,
Just believe,
Come on.
If you love me hardcore, then don’t walk away,
It’s a game boy,
I don’t wanna play,
I just wanna be your’s,
Like I always say,
Never let me go.
Boy, we’re in a world war,
Let’s go all the way,
Put your foot to the floor,
Really walk away,
Tell me that you need me more and more everyday,
Never let me go, just stay.
I remember when I saw you for the first time,
You were laughing,
Sparking like a new dime,
I came over,
“Hello, can you be mine?”
Can you be mine,
Can you be mine?
If you love me hardcore, then don’t walk away,
It’s a game boy,
I don’t wanna play,
I just wanna be your’s,
Like I always say,
Never let me go.
Baby it’s a sweet life,
Sing it like song,
It’s a short trip,
Only getting one who can count on my love more than anyone,
Never let me go.
If you love me hardcore, then don’t walk away,
It’s a game boy,
I don’t wanna play,
I just wanna be your’s,
Like I always say,
Never let me go.
Boy, we’re in a world war,
Let’s go all the way,
Put your foot to the floor,
Really walk away,
Tell me that you need me more and more everyday,
Never let me go, just stay.'
Lana Del Rey - Never Let Me Go
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
terça-feira, 11 de setembro de 2012
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
domingo, 9 de setembro de 2012
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
amor & gargalhadas simples
é importante ser delicado.
é importante dar-lhe atenção.
é importante diz-lhe que está bonita (principalmente quando não está).
é importante ser carinhoso.
é importante dar-lhe flores.
é importante ter bom gosto.
é importante ouvi-la.
é importante ser interessante.
é importante passear com ela.
tudo isso (e tanto mais) é importante.
mas não há nada mais importante do que a fazer rir às gargalhadas.
é importante dar-lhe atenção.
é importante diz-lhe que está bonita (principalmente quando não está).
é importante ser carinhoso.
é importante dar-lhe flores.
é importante ter bom gosto.
é importante ouvi-la.
é importante ser interessante.
é importante passear com ela.
tudo isso (e tanto mais) é importante.
mas não há nada mais importante do que a fazer rir às gargalhadas.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
amor & coisas que não são assim tão simples
You go your way and I'll go my way
No words can save us, this lifestyle made us
Run along like I'm supposed to, be the man I ought to
Rock and Roll, sent us insane, I hope someday that we will meet again
Kasabian - Goodbye Kiss
amor & coisas simples
across the gateway of my heart
«Across the gateway of my heart
I wrote "No thoroughfare"
But love came passing by
And cried "I enter everywhere"»
Herbert Shipman
«Across the gateway of my heart
I wrote "No thoroughfare"
But love came passing by
And cried "I enter everywhere"»
Herbert Shipman
it's all so quiet
quiet as death
'twice in one week
i have been referred to
as emotionally cold
twice this month
i've been referred to
as manipulative
once someone told me
they were tired of
managing me and my
emotions
one man said that
i humiliate myself publicly
and need self respect
another man said i was
morbid
because of my taste in movies
one man tells me he loves me
and another says he
did love me and
always will but
not as much as her
all i can think of
is that i want you all
to be quiet
very quiet
quiet as death
so i can think about
myself
without your cries
and wails and fits
of interpretation
the most comforting thing
anyone has ever said
in regard to me
was that i
am just a person
living my life
but he was
a bastard'
Kendra Grant Malone
'twice in one week
i have been referred to
as emotionally cold
twice this month
i've been referred to
as manipulative
once someone told me
they were tired of
managing me and my
emotions
one man said that
i humiliate myself publicly
and need self respect
another man said i was
morbid
because of my taste in movies
one man tells me he loves me
and another says he
did love me and
always will but
not as much as her
all i can think of
is that i want you all
to be quiet
very quiet
quiet as death
so i can think about
myself
without your cries
and wails and fits
of interpretation
the most comforting thing
anyone has ever said
in regard to me
was that i
am just a person
living my life
but he was
a bastard'
Kendra Grant Malone
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
lambarices
'Um casal, pais de gémeos de 14 semanas, decidiram presentear os passageiros do mesmo voo com doces e tampões para se desculparem do incómodo que os filhos pudessem causar.
«Olá! Nós somos dois irmãos gémeos que estamos a fazer o nosso primeiro voo, e temos apenas 14 semanas! Nós vamos tentar comportarmo-nos o melhor possível, mas gostaríamos de pedir desculpas antecipadas se por acaso nós perdermos o controlo, ficarmos assustados ou com dores nos ouvidos. Os nossos pais (são aqueles que transportam a máquina de leite portátil e porta-fraldas) têm tampões para os ouvidos se precisarem. Nós estamos todos no lugar 20E e 20F se quiser vir ter connosco e apanhar um par. Esperamos que tenha um óptimo voo!», podia ler-se no bilhete que acompanhava o saquinho de plástico.
O gesto dos pais provocou admiração entre os passageiros e um dos viajantes partilhou uma fotografia do miminho no site «Reddit».
«Uns pais muito atenciosos entregaram um destes a toda a gente no meu voo», escreveu o passageiro, que afirmou ao Daily Mail que o voo correu bem, apesar dos receios do casal.'
aqui
«Olá! Nós somos dois irmãos gémeos que estamos a fazer o nosso primeiro voo, e temos apenas 14 semanas! Nós vamos tentar comportarmo-nos o melhor possível, mas gostaríamos de pedir desculpas antecipadas se por acaso nós perdermos o controlo, ficarmos assustados ou com dores nos ouvidos. Os nossos pais (são aqueles que transportam a máquina de leite portátil e porta-fraldas) têm tampões para os ouvidos se precisarem. Nós estamos todos no lugar 20E e 20F se quiser vir ter connosco e apanhar um par. Esperamos que tenha um óptimo voo!», podia ler-se no bilhete que acompanhava o saquinho de plástico.
O gesto dos pais provocou admiração entre os passageiros e um dos viajantes partilhou uma fotografia do miminho no site «Reddit».
«Uns pais muito atenciosos entregaram um destes a toda a gente no meu voo», escreveu o passageiro, que afirmou ao Daily Mail que o voo correu bem, apesar dos receios do casal.'
aqui
projectos
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"
Sérgio Godinho - A Noite Passada
coisas simples
Jesse: Life's hard. It's supposed to be. If we didn't suffer, we'd never learn anything.
in Before Sunset
terça-feira, 4 de setembro de 2012
é a cultura, estúpido!
'Vivemos um tempo de risonha hipocrisia artística. Veja-se o paternalismo da campanha de Morangos com Açúcar: depois da série, o filme seria uma maneira de promover os jovens actores... Espantoso, de facto! Num país com tantas carências na educação para as artes, encena-se (?) um grupo de jovens (por certo, com talento, não é isso que está em causa) a imitar a retórica dos adultos nas telenovelas e promove-se tudo, em tom muito sério, como uma espécie de redenção artística.
A conjuntura apela ao desespero da caricatura. Assim, depois de pelo menos duas décadas de metódica degradação populista do espaço televisivo, nasceu das pedras da calçada uma avalancha de gente preocupada com os destinos da RTP, incluindo alguns políticos que nunca ligaram ao assunto. António Borges foi o santo milagreiro: com meia dúzia de palavras displicentes, conseguiu consagrar o reconhecimento de uma verdade rudimentar, regularmente enunciada por alguns críticos de televisão nos desertos do nosso pensamento democrático. A saber: que a televisão (e, em particular, a RTP) é uma questão absolutamente prioritária na conjuntura político-cultural portuguesa.
Há em tudo isto uma drástica dimensão educacional. Veja-se como a mesma promoção de Morangos com Açúcar celebra o respectivo número de espectadores. Valor incontornável, sem dúvida. Mas neste caso utilizado de forma profundamente demagógica, como se fosse uma “prova real”... não se sabe bem de quê. Importa repetir pela milionésima vez que uma coisa é defender políticas de promoção de todo (repito: todo) o cinema português; outra, bem diferente, é sugerir que algo adquire dignidade artística apenas porque, qual amontoado de cadáveres em acidente na auto-estrada, fica muita gente parada a olhar... O facto cirúrgico é este: não se pode esperar que um público educado por Morangos com Açúcar mostre o mínimo interesse em ver, por exemplo, Oslo, 31 de Agosto.
Que é Oslo, 31 de Agosto? Pois bem, um belo filme norueguês, estreado no mesmo dia de Morangos com Açúcar, que não passou em nenhum noticiário televisivo. Tem a ver com quê? O ser ou não ser jovem, a dificuldade de amar e a dependência de drogas. E tem alguns actores sem tiques publicitários, a começar pelo brilhante Anders Danielsen Lie.
Oslo, 31 de Agosto vai ser um falhanço comercial? É o mais provável. Ao que dirão os responsáveis por Morangos com Açúcar: as performances nas bilheteiras desenham uma fronteira intransponível. E eu estou de acordo com eles. Acrescentado apenas que o comércio é a primeiríssima forma de cultura. Na sua inquestionável inteligência, esses mesmos responsáveis sabem que Morangos com Açúcar existe como um perverso ministério da cultura, com um poder simbólico superior ao de qualquer instituição educacional. Meus senhores, eis a crua verdade: os grandes agentes culturais são vocês.
por João Lopes, aqui.
A conjuntura apela ao desespero da caricatura. Assim, depois de pelo menos duas décadas de metódica degradação populista do espaço televisivo, nasceu das pedras da calçada uma avalancha de gente preocupada com os destinos da RTP, incluindo alguns políticos que nunca ligaram ao assunto. António Borges foi o santo milagreiro: com meia dúzia de palavras displicentes, conseguiu consagrar o reconhecimento de uma verdade rudimentar, regularmente enunciada por alguns críticos de televisão nos desertos do nosso pensamento democrático. A saber: que a televisão (e, em particular, a RTP) é uma questão absolutamente prioritária na conjuntura político-cultural portuguesa.
Há em tudo isto uma drástica dimensão educacional. Veja-se como a mesma promoção de Morangos com Açúcar celebra o respectivo número de espectadores. Valor incontornável, sem dúvida. Mas neste caso utilizado de forma profundamente demagógica, como se fosse uma “prova real”... não se sabe bem de quê. Importa repetir pela milionésima vez que uma coisa é defender políticas de promoção de todo (repito: todo) o cinema português; outra, bem diferente, é sugerir que algo adquire dignidade artística apenas porque, qual amontoado de cadáveres em acidente na auto-estrada, fica muita gente parada a olhar... O facto cirúrgico é este: não se pode esperar que um público educado por Morangos com Açúcar mostre o mínimo interesse em ver, por exemplo, Oslo, 31 de Agosto.
Que é Oslo, 31 de Agosto? Pois bem, um belo filme norueguês, estreado no mesmo dia de Morangos com Açúcar, que não passou em nenhum noticiário televisivo. Tem a ver com quê? O ser ou não ser jovem, a dificuldade de amar e a dependência de drogas. E tem alguns actores sem tiques publicitários, a começar pelo brilhante Anders Danielsen Lie.
Oslo, 31 de Agosto vai ser um falhanço comercial? É o mais provável. Ao que dirão os responsáveis por Morangos com Açúcar: as performances nas bilheteiras desenham uma fronteira intransponível. E eu estou de acordo com eles. Acrescentado apenas que o comércio é a primeiríssima forma de cultura. Na sua inquestionável inteligência, esses mesmos responsáveis sabem que Morangos com Açúcar existe como um perverso ministério da cultura, com um poder simbólico superior ao de qualquer instituição educacional. Meus senhores, eis a crua verdade: os grandes agentes culturais são vocês.
por João Lopes, aqui.
utilidades
'Tanto o meu habitual pessimismo como o meu ocasional optimismo obedecem a uma variante bizarra do «método experimental»: se uma coisa acontece uma vez, é porque pode acontecer, e se pode acontecer uma vez, acontecerá várias vezes. Isto como ciência é frouxo, mas como indício é útil.'
mestre
mestre
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
projectos
I didn't know if you wanted to
But I came to pick you up
You didn't even hesitate
And now you and me are on our way
I think I've bought everything we need
Don't look back, don't think of the
Other places you should've been
It's a good thing that you came along with me
Kings of Convenience - Gold In The Air Of Summer
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
até para o ano
Late August
'This is the plum season, the nights
blue and distended, the moon
hazed, this is the season of peaches
with their lush lobed bulbs
that glow in the dusk, apples
that drop and rot
sweetly, their brown skins veined as glands
No more the shrill voices
that cried Need Need
from the cold pond, bladed and urgent as new grass
Now it is the crickets
that say Ripe Ripe
slurred in the darkness, while the plums
dripping on the lawn outside
our window, burst
with a sound like thick syrup
muffled and slow
The air is still
warm, flesh moves over
flesh, there is no
hurry.'
Margaret Atwood
'This is the plum season, the nights
blue and distended, the moon
hazed, this is the season of peaches
with their lush lobed bulbs
that glow in the dusk, apples
that drop and rot
sweetly, their brown skins veined as glands
No more the shrill voices
that cried Need Need
from the cold pond, bladed and urgent as new grass
Now it is the crickets
that say Ripe Ripe
slurred in the darkness, while the plums
dripping on the lawn outside
our window, burst
with a sound like thick syrup
muffled and slow
The air is still
warm, flesh moves over
flesh, there is no
hurry.'
Margaret Atwood
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