sábado, 4 de fevereiro de 2012

nada

'«E então?», pergunta alguém. E a outra pessoa responde: «E então, nada». Parece uma dessas trocas de palavras sem sentido, em que os portugueses são exímios. O «então» da pergunta não supõe forçosamente que tenha acontecido alguma coisa a que se teria seguido uma qualquer reacção; pode ser apenas um vago «como vai a vida?». Idem a resposta: ou é igualmente vaga ou é nula; se o «então» se refere a um nexo causal entre um facto e outro que se lhe seguiu, então não há nada a dizer a isso, não houve nenhum nexo, nenhuma acção. «Então, nada». Ou pode ser uma resposta ainda mais triste, mais conformista: de facto aconteceu alguma coisa mas a conclusão disso é nenhuma, a reacção é nenhuma, aconteceu alguma coisa mas não há «então» possível. E o «nada», em vez de uma simples negação, é a afirmação de uma negação. Como se em vez de uma vírgula houvesse dois pontos: «então: nada».'

mestre

Sem comentários:

Enviar um comentário