'Emanuel Litvinoff, que morreu há dias quase centenário, foi um dos grandes cronistas da experiência judaica inglesa, nomeadamente no volume de memórias Journey Through a Small Planet. Mas o seu texto mais conhecido é um manifesto: um poema contra T. S. Eliot. Na década de 1920, Eliot tinha publicado alguns poemas com passagens anti-semitas, em especial o desagradável «Burband with a Baedeker: Bleistein with a Cigar». Mas o judeu Litvinoff admirava bastante a poesia de Eliot, e tentou desculpar essa mancha, atribuindo a culpa às nefastas modas intelectuais do período entre as guerras. O pior é que em 1948 Eliot republicou o poema ofensivo numa antologia da sua obra. Litvinoff ficou chocado. Recuperar aquele texto cheio de epítetos rácicos depois do Holocausto era um acto de insensatez ou de desumanidade. Litvinoff escreveu então um poema em que castigava ferozmente a atitude de Eliot e renunciava à sua condição de discípulo. Esse poema tornar-se-ia famoso. E gerou um incidente logo em 1951. Litvinoff foi convidado para uma sessão no Institute of Contemporary Arts e decidiu ler o poema-panfleto, que ninguém ali conhecia. Quando terminou, a sala rebentou de indignação. Na mesa, Herbert Read e Stephen Spender protestaram veementemente contra aquele ultraje ao recém-nobelizado. Mas no meio da contestação geral, ouviu-se uma voz discordante ao fundo da sala: «It’s a good poem. It’s a very good poem», disse Eliot.'
do mestre
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