sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A Propósito de Agosto - Parte II - A Vingança


Não tenho nada contra os emigrantes portugueses. Mesmo. Aliás, nasci numa freguesia com uma forte tradição de emigração, quer definitiva (para França antes do 25 de Abril), quer temporária (a mais recente fuga para Espanha no mercado da construção civil) e tenho alguns amigos que decidiram sair do País, em busca de melhores dias.

Todavia, não posso deixar de observar o comportamento dos mesmos sempre que em Agosto invadem cafés, restaurantes e tudo o quanto é festas e romarias, e se pavoneiam de uma forma absolutamente despropositada.

Um emigrante, vá para onde for, tentará ir para um País melhor (nem sempre se verifica, mas nos casos em que se foge desta regra estaremos, em princípio, perante mão-de-obra qualificada o que nos afasta da situação que queremos focar no post). Aí tratará de delinear o seu quotidiano de uma forma que lhe permita ter uma vida com maior qualidade do que a que tinha em Portugal (senão porque é que sairiam?). Questão: quem é que acredita que, mesmo auferindo melhores salários, alguém consegue ter uma vida melhor se tratar de ter os mesmos hábitos da pré-emigração (saídas à noite em todos os dias da semana, passeios de fim-de-semana, jantares, etc.)? Desenganem-se.

Daí achar que o emigrante que vem a Portugal nas férias de verão tem efectivamente uma real necessidade de se pavonear perante os seus compatriotas. Algumas razões possíveis: (i) dar a ideia de que a vida está boa e corre pelo melhor (chega-se a contar histórias de malta que aluga carros topo de gama só para vir a Portugal e dar uma ideia de bem-estar, ainda que ilusória) por uma questão de orgulho pessoal; (ii) desforrar-se de um ano de privações (como já disse, a vida no estrangeiro não pode ser a mesma que era levada cá pois caso contrário não valerá a pena); (iii) porque efectivamente são (e somos!) todos uns grandes gabarolas, antes e depois de ir para o estrangeiro e como tal apenas estão a ser congruentes.

Esta última possibilidade é real e deita por terra o meu esforço cognitivo (cerca de 30 segundos da minha vida o que é imenso). Ainda assim creio que as duas primeiras possibilidades farão mais sentido e enquadram-se melhor na situação em que se encontram os emigrantes.

Em todo o caso, têm a minha simpatia e serão, como todos os que cá vêm, bem recebidos. Isto porque, não gostando muito de colocar a hipótese de emigrar, percebo que há casos e casos e algumas pessoas chegam a um determinado ponto em que a única solução que se lhes coloca é sair. Outros pura e simplesmente estão fartos de tudo isto. Aqui já concordo menos. É a saída fácil. Mas estas, regra geral, não são as melhores. A vida dá trabalho, ponto, e fugir não é solução, mas sim falta de coragem e de solidariedade.

Mas já chega de chatear. Acima de tudo, apenas alguns encarecidos pedidos a todos os que "voltam de lá": evitem as cores choque e as mangas “cavas”, a exibição de ouro e outras lantejoulas, o "Jean Pierre tu vá tomber" ou o "filho, vien ici", e, last but not the least, os “tunings” rosa pantera e amarelo canário. É que, para isso, já não há pachorra...

O pior é se eles se lembram de dizer: "ecuté, Pedrô, avez sufrir, hã".

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