sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Cemitérios


Os nossos cemitérios são o prolongamento da nossa personalidade latina. E é um facto mais do que comprovado que os latinos não lidam bem com o fenómeno da morte. Basta consultar as estatísticas de pessoas que decidem fazer testamento (não chegam sequer a 5% da população portuguesa) ou observar a reacção de algum amigo quando, por brincadeira, decidimos partilhar que vamos fazer o nosso testamento: "mas vais morrer" perguntará por certo.

Os ritos dos nossos funerais, a missa do 7.º dia e o Dia de Todos os Santos são outros exemplos da nossa contradição: não lidamos bem com a morte mas estamos sempre a invocá-la, em diferentes momentos e comportamentos. Não deixa de ser estranho.

Um local onde se sente de forma particular esta questão é nos cemitérios. Somos extremamente ostensivos e gostamos de gastar rios de dinheiro com parcimónias que ficam depositadas nas campas, mesmo que tal não traduza minimamente a vontade da pessoa falecida. O importante é que a mármore em forma de livro (very tipical...) seja maior do que a do vizinho.

Não tendo que concordar ou deixar de o fazer com estes comportamentos, até porque é uma questão tremendamente sensível e subjectiva, posso comentar. E nesse sentido acho que nós latinos temos estas atitudes como forma de venerar a morte, prestando-lhe todas as vassalagens possíveis para que ela não nos venha bater à porta.

Uma dessas formas é não fazendo testamentos. Outra passa pela ostentação dos cemitérios com o que é lantejoulas do mais parolo que existe! Basta ver.

Eis-nos depois num cemitério tipicamente português:



Eis-nos depois, primeiro, num cemitério nórdico (no caso, na Gronelândia *) e depois num cemitério nos Estados Unidos da América:





Contra imagens (e poderiam ser muitas mais), não há argumentos.

Como nós, latinos, haverá muitos mais é certo. Mas com este sentimento sôfrego e de submissão já não sei... The bottom line: acho que somos um povo que se apercebeu que tem de sofrer e como tal apenas vive em conformidade. Só assim se explica este fenómeno de devoção... Digo eu, que não percebo nada disto...

* Fonte: The Big Picture (http://www.boston.com/bigpicture)

1 comentário:

  1. Artigo interessante, gostei de ler. Abraço do companheiro da luta

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