«Well closer to God is the one who's in love», disse-o tantas vezes Damien Rice, e ninguém o compreendeu tão bem quanto The xx. O que há de mais íntimo e incomunicável nisto de nos apaixonarmos está aqui, em verso, respiração e batimento cardíaco, e eu desafio qualquer alminha sobredotada para a poesia, tratado filosófico ou bruxaria a tentar o milagre. É a (minha) música do ano. Digamos que também ela está muito próxima de Deus.
'You move through the room
Like breathing was easy
If someone believed me
They would be
As in love with you as I am'»
menina limão
The xx - Angels
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
socos no estômago
'A homeless man slept in front of a shoe store in Lisbon. About 1.4 million people are currently unemployed in Portugal, and only 370,000 of them receive monthly social support from the government, leaving around one million people without the benefit.'
Portugal Passes Another Austere Budget, in New York Times
e um certo espelho
Sob o Chuveiro Amar
'Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?'
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'
'Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?'
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'
terça-feira, 27 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
lambarices
também gosto muito do primeiro comentário do senhora(a) 'gogiryeah': 'the one person who disliked this has no soul'.
aproveito para dizer o senhor(a) 'gogiryeah' que actualmente existem já 9 pessoas que não gostam do vídeo e que, por isso mesmo, não têm alma.
o mundo está perdido.
mãe, desculpa
brincadeiras
'brincávamos a cair nos
braços um do outro, como faziam
as actrizes nos filmes com o marlon
brando, e depois suspirávamos e ríamos
sem saber que habituávamos o coração à
dor. queríamos o amor um pelo outro
sem hesitações, como se a desgraça nos
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que
o peito era todo em movimento e não
sabíamos que a vida podia parar um
dia. eu ainda te disse que me doíam os
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o
cansaço chegava e instalava-se no meu
poço de medo. tu rias e caías uma e outra
vez à espera de acreditares apenas no que
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam,
quando percebíamos que o mundo era
feito de distância e tanto tempo vazio, tu
ficavas muito feminina e abandonada e eu
sofria mais ainda com isso. estavas tão
diferente de mim como se já tivesses
partido e eu fosse apenas um local esquecido
sem significado maior no teu caminho. tu
dizias que se morrêssemos juntos
entraríamos juntos no paraíso e querias
culpar-me por ser triste de outro modo, um
modo mais perene, lento, covarde. Eu
amava-te e julgava bem que amar era
afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu
nos teus braços, fazias um
bigode no teu rosto como se fosses o
marlon brando. eu, que te descobria como se
descobrem fantasias no inferno, não
queria ser beijado pelo marlon brando e
entrava numa combustão modesta que, às
batidas do meu coração, iluminava o meu
rosto como lâmpada falhando
a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não
brinques assim, vais partir uma perna, vais
partir a cabeça, vais partir o
coração. e estava certa, foi tudo verdade'
valter hugo mãe, 'contabilidade'
'brincávamos a cair nos
braços um do outro, como faziam
as actrizes nos filmes com o marlon
brando, e depois suspirávamos e ríamos
sem saber que habituávamos o coração à
dor. queríamos o amor um pelo outro
sem hesitações, como se a desgraça nos
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que
o peito era todo em movimento e não
sabíamos que a vida podia parar um
dia. eu ainda te disse que me doíam os
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o
cansaço chegava e instalava-se no meu
poço de medo. tu rias e caías uma e outra
vez à espera de acreditares apenas no que
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam,
quando percebíamos que o mundo era
feito de distância e tanto tempo vazio, tu
ficavas muito feminina e abandonada e eu
sofria mais ainda com isso. estavas tão
diferente de mim como se já tivesses
partido e eu fosse apenas um local esquecido
sem significado maior no teu caminho. tu
dizias que se morrêssemos juntos
entraríamos juntos no paraíso e querias
culpar-me por ser triste de outro modo, um
modo mais perene, lento, covarde. Eu
amava-te e julgava bem que amar era
afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu
nos teus braços, fazias um
bigode no teu rosto como se fosses o
marlon brando. eu, que te descobria como se
descobrem fantasias no inferno, não
queria ser beijado pelo marlon brando e
entrava numa combustão modesta que, às
batidas do meu coração, iluminava o meu
rosto como lâmpada falhando
a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não
brinques assim, vais partir uma perna, vais
partir a cabeça, vais partir o
coração. e estava certa, foi tudo verdade'
valter hugo mãe, 'contabilidade'
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
é sexta-feira
Mozart - Le Nozze Di Figaro, @ The Shawshank Redemption
Red: [narrating] I have no idea to this day what those two Italian ladies were singing about. Truth is, I don't want to know. Some things are best left unsaid. I'd like to think they were singing about something so beautiful, it can't be expressed in words, and makes your heart ache because of it. I tell you, those voices soared higher and farther than anybody in a gray place dares to dream. It was like some beautiful bird flapped into our drab little cage and made those walls dissolve away, and for the briefest of moments, every last man in Shawshank felt free.
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
mais um a dar-me razão
«A ideia de fazer tudo para que os filhos sejam felizes, evitando que chorem, está ultrapassada. A teoria de disciplinar sem que a criança chore está desactualizada, diz Gordon Neufeld, psicólogo clínico canadiano que esteve em Portugal no final da semana. (...) 'As crianças precisam da tristeza, da tragédia para crescerem. Precisam de ter as suas lágrimas', defende.»
(aqui)
(aqui)
amor & coisas simples
'when I say that I miss you I mean something more,
i mean I’ve been biding my time till you kiss me again.
i keep poems like secrets
and then tell them when I’m tried of hiding who I am.
i am missing you most
in the silence between songs on my favorite record.
sometimes it takes so long for the music to start… is there a shoreline where the seaweed holds the rocks
so tight they soften into sand?
is it too late to say that’s how my heart feels in your hands?
like you could sift it through an hour glass and pass it off as time
never stood still, and neither did I…
but I will
if you let me.'
Andrea Gibson
i mean I’ve been biding my time till you kiss me again.
i keep poems like secrets
and then tell them when I’m tried of hiding who I am.
i am missing you most
in the silence between songs on my favorite record.
sometimes it takes so long for the music to start… is there a shoreline where the seaweed holds the rocks
so tight they soften into sand?
is it too late to say that’s how my heart feels in your hands?
like you could sift it through an hour glass and pass it off as time
never stood still, and neither did I…
but I will
if you let me.'
Andrea Gibson
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
socos no estômago
'Supermercado do centro comercial das Amoreiras, fim da tarde de terça-feira. Uma jovem mãe, acompanhada do filho com seis anos, está a pagar algumas compras que fez: leite, manteiga, fiambre, detergentes e mais alguns produtos.
Quando chega ao fim, a empregada da caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha para o dinheiro que traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho 70 euros.
Começa a pôr de lado vários produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda não. Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este pacote de bolachas também fica.
Aí o menino agarra na manga do casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São as que eu levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por trás dela começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de lágrima no canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.
O momento embaraçoso é quebrado pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas, pergunta à empregada da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi um sorriso muito envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A pobreza de quem nunca pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor os que a sofrem.
Tenho a certeza que o ministro Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito improvável. Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que esse é o preço a pagar pela famoso ajustamento. É isso que é muito preocupante.'
Nicolau Santos, (aqui)
Quando chega ao fim, a empregada da caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha para o dinheiro que traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho 70 euros.
Começa a pôr de lado vários produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda não. Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este pacote de bolachas também fica.
Aí o menino agarra na manga do casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São as que eu levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por trás dela começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de lágrima no canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.
O momento embaraçoso é quebrado pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas, pergunta à empregada da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi um sorriso muito envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A pobreza de quem nunca pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor os que a sofrem.
Tenho a certeza que o ministro Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito improvável. Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que esse é o preço a pagar pela famoso ajustamento. É isso que é muito preocupante.'
Nicolau Santos, (aqui)
amor & coisas (que não são assim tão) simples
'I was sentimental about many things: a woman’s shoes under the bed; one hairpin left behind on the dresser; walking down the boulevard with them at 1:30 in the afternoon, just two people walking together; the long nights of drinking and smoking; talking; the arguments; thinking of suicide; eating together and feeling good; the jokes; the laughter out of nowhere; feeling miracles in the air; being in a parked car together; comparing past loves at 3am; mothers, daughters, sons, cats, dogs; sometimes death and sometimes divorce; but always carring on, always seeing it through; reading a newspaper alone in a sandwich joint and feeling nausea because she’s now married to a dentist with an I.Q. of 95; racetracks, parks, park picnics; even jails; her dull friends; your dull friends; your drinking, her dancing; your flirting, her flirting; her pills, your fucking on the side and her doing the same; sleeping together.'
Charles Bukowski
Charles Bukowski
terça-feira, 20 de novembro de 2012
coisas simples
'The area dividing the brain and the soul is affected in many ways by experience. Some lose all mind and become soul: insane. Some lose all soul and become mind: intellectual. Some lose both and become accepted.'
Charles Bukowski
Charles Bukowski
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
coisas simples
Discurso do presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, na Rio+20
É importante sublinhar que este mesmo senhor foi apelidado (aqui) de ser o «presidente mais 'pobre' do mundo».
A reportagem:
«Apenas a presença de dois polícias quebra a aparência de "normalidade" na quinta onde vive o chefe de Estado do Uruguai. Cá fora, a roupa seca ao sol e as ervas reclamam um corte. Manuela, uma cadela de três pernas vigia a casa.
Foi por esta quinta, propriedade da primeira-dama, que Jose Mujica, antigo guerrilheiro, trocou a luxuosa residência oficial. Conduz um Volkswagen Beetle de 1987, que é o seu bem mais caro.
O facto de doar 90% do seu salário como Presidente para a caridade, deixa-o com cerca de mil euros mensais.
Eleito em 2009, Mujica passou grande parte das décadas de 60 e 70 a lutar ao lado de um grupo armado inspirado na revolução cubana. Foi alvejado seis vezes e esteve preso durante 14 anos, até 1985.
"Chamam-me o 'presidente mais pobre', mas eu não me sinto pobre", declara, à BBC. "Pobres são os que só trabalham para tentar manter um estilo de vida dispendioso e querem sempre mais e mais". "É uma questão de liberdade", conclui.»
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
frases que tinham tudo para dar certo
'então e quando é que te vão... (pausa) filmar lá com a cara'
o grande Zé, nas suas habituais tiradas, a propósito de umas gravações quase cinematográficas.
o grande Zé, nas suas habituais tiradas, a propósito de umas gravações quase cinematográficas.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
greve geral *
Cavalheiro - Lado de Lá
* pode ser que um dia tenha a coragem para estar desse tal lado de lá. o lado certo. desculpa avô.
para dormir de um sono só e ser feliz (não necessariamente por esta ordem)
La mia mente ha preso il volo
Un pensiero, uno solo
Io cammino mentre dorme la città
I suoi occhi nella notte
Fanali bianchi nella notte
Una voce che mi parla, chi sarà?
Dimmi ragazzo solo dove vai,
Perché tanto dolore?
Hai perduto senza dubbio un grande amore
Ma di amori e' tutta piena la città,
No ragazza sola, no no no
Stavolta sei in errore
Non ho perso solamente un grande amore
Ieri sera ho perso tutto con lei.
Ma lei
I colori della vita
Dei cieli blu
Una come lei non la troverò mai più
Ora ragazzo solo dove andrai
La notte e' un grande mare
Se ti serve la mia mano per nuotare
Grazie ma stasera io vorrei morire
Perché sai negli occhi miei
C'e' un angelo, un angelo
Che ormai non vola più
Che ormai non vola più
Che ormai non vola più
C'e' lei
I colori della vita
Dei cieli blu
Una come lei non la troverò mai più
David Bowie - Ragazzo Solo, Ragazza Sola
terça-feira, 13 de novembro de 2012
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
amor & coisas (que não são assim tão) simples
Poema sobre a Recusa
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
Maria Teresa Horta
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
Maria Teresa Horta
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
amor & coisas simples
You know that it's like leading a mild life
The clothes in my younger days were so wild
And it's time I met someone like you
And I hope to make certain that it's true
Richard Hawley - Hotel Room
Isabel Jonet, vai à merda!
'Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha
A senhora de não sei quem
Que é de todos e de mais alguém
Passa a tarde descansada
Mastigando a torrada
Com muita pena do pobre
Coitada
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha
Neste mundo de instituição
Cataloga-se até o coração
Paga botas e merenda
Rouba muito mas dá prenda
E ao peito terá
Uma comenda
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha
O pobre no seu penar
Habitua-se a rastejar
E no campo ou na cidade
Faz da sua infelicidade
Alvo para os desportistas
Da caridade
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha
E nós que queremos ser irmãos
Mas nunca sujamos as mãos
É uma vida decente
Não passeio ou aguardente
O que é justo
E há-que dar a toda a gente
Não vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta é falsa intençãozinha
Não vamos brincar à caridadezinha
Não vamos brincar à caridadezinha
Não vamos brincar à caridadezinha'
José Barata Moura - vamos brincar à caridadezinha
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
ignorance is bliss
'Who can know
The thoughts of Mary Jane
Why she flies
Or goes out in the rain
Where she's been
And who she's seen
In her journey to the stars.
Who can know
The reasons for her smile
What are her dreams
When they've journeyed for a mile
The way she sings
And her brightly coloured rings
Make her the princess of the sky.
Who can know
What happens in her mind
Did she come from a strange world
And leave her mind behind
Her long lost sighs
And her brightly coloured eyes
Tell her story to the wind.'
Nick Drake - The Thoughts Of Mary Jane
terça-feira, 6 de novembro de 2012
amor & coisas simples
feels so good when i'm near you
holding hands and making love
Ariel Pink's Haunted Graffiti - Baby
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
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